Mudança da Corte para o Brasil

Ao fugir para o Brasil, D. João deixou seu país ocupado por tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte. A invasão fora conseqüência da aliança entre Portugal e a Inglaterra, velha inimiga da França. Napoleão havia exigido dos países europeus que fizessem um bloqueio econômico aos ingleses e Portugal rejeitou a medida. Em represália, foi invadido.

Dois meses depois de chegar a Salvador, com 36 navios trazendo 15000 pessoas (entre nobres, funcionários, padres e criados) e metade do dinheiro circulante em Portugal, a família real se estabeleceu no Rio de Janeiro. Sua presença provocou a reurbanização da cidade e um enorme impacto nos costumes. A sofisticação dos europeus mudou o modo de vestir e de se comportar do carioca, que passou a frequentar bailes, chás e espetáculos de ópera.

Além disso, a Coroa requisitou o Convento do Carmo e a Cadeia Velha para alojar os serviçais e as melhores casas particulares. A desapropriação era feita pelo carimbo das iniciais PR (de Príncipe-Regente) nas portas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia, interpretar a sigla como "Ponha-se na Rua!".

A simples presença da família real mudou o status do Brasil: de colônia passamos a sede da Coroa portuguesa. Em 1815, o Brasil era promovido por D. João à categoria de Reino. Além de abrir os portos, D. João também permitiu que houvesse manufaturas aqui, o que estava proibido desde 1785, por sua mãe D. Maria I.

Para promover o comércio, D. João instalou o Banco do Brasil e criou a Casa da Moeda. Para aparelhar as Forças Armadas, inaugurou uma fábrica de pólvora, duas Academias (a Militar e a da Marinha) e organizou fundições de ferro.

O afluxo de portugueses, ingleses e outros estrangeiros aumentou o número de habitantes do Rio de 60 mil, em 1808, para 100000, em 1820, causando uma crescente necessidade de mão-de-obra. Estima-se que, no início do século XIX, chegavam à cidade 5000 escravos por ano. Mas, na segunda metade do século, o número subiu para 34000.

D. João VI formou as Escolas de Medicina, de Matemática, Física e Engenharia e de Belas-Artes. Organizava-se assim o ensino superior. A fundação da Biblioteca Real, do Teatro Lírico e do Museu Nacional, favoreceu a vinda de cientistas e artistas que retrataram o país. A chegada da Missão francesa, em 1816 (após a derrota de Napoleão), é um exemplo disso. Com ela veio o desenhista J. B. Debret, autor do livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", importante documento sobre o Brasil do século XIX.

A imprensa, até então proibida, nasceu por iniciativa oficial e foi responsável pela publicação do primeiro jornal impresso no país: a Gazeta do Rio de Janeiro, lançada em 10 de setembro de 1808. Enquanto D. João realizava todas essas modificações na colonia, os portugueses exigiam seu retorno. Estava ocorrendo uma inversão de papéis. O Brasil, na prática, tinha virado a sede do governo, e gozava dos benefícios dessa situação. Já Portugal, sob a proteção de tropas britânicas, assumia um papel secundário. A insatisfação na metrópole foi a causa da Revolução Liberal do Porto, movimento constitucionalista que eclodiu em 1820.

No Brasil, estava lançada a semente que faria germinar o processo de independência. O povo brasileiro não aceitava retornar à submissão colonial. Pressionada pela situação, a família real zarpou do Brasil em 26 de abril de 1821, deixando D. Pedro como regente. Um ano depois, D.Pedro proclamava a independência.

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